sábado, 13 de novembro de 2010

Meus olhos, minha cidade, meus direitos, meu lugar

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Nessa semana uma forte gripe me tirou a voz e o olfato. Roubou minha energia, e me trouxe uma fragilidade imensa para enfrentar o frio, o vento e a falta de educação.

Enquanto ouvia um poema famoso onde a cidade de SP era motivo de angústia, lágrimas e aflição, fiquei com raiva do poeta. Como ousou falar de minha cidade com tamanha melancolia? Como pode conferir à ela sentimentos sombrios que o habitavam por natureza ou comodidade? Como podem outros cantá-la igualmente, sem observar seu céu bailarino, suas heróicas flores perfumadas, sua voz estridente que se equaliza em flexibilidade infinita?

Como pode o rústico conferir à cidade a responsabilidade por sua natureza letárgica? Quem o disse não poder caminhar saltitante pelas calçadas? Quem o fez duro não foi a cidade, mas suas crenças. Quem o faz admirar o poeta que a temia é seu coração empedrado - não pelo cimento - mas pelas mágoas que traz consigo. Mágoas essas que só se consolidaram por ser ele vaidoso, maldoso ou insolente.

Quem vive aqui e se entrega ao desfrute alegre de suas auroras as têm de graça. Quem vive aqui e se permite observá-la, vê passar em sua frente o mundo todo sem gastar um tostão ou um passo do sapato.

Esses, que odeiam a cidade e não conhecem sua natureza acolhedora, nunca se permitiram olhar para ela. Não como uma São Paulo avenida, nem indústria ou aglomerado.  Mas sim como uma cidade menina, matéria-prima dos mil formatos que as centenas de milhares de mãos diariamente ocupam-se em lhe dar.

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