Depois que entrei na faculdade, descobri que minha profissão era encantadora e entediante. Então me formei e saí pelo mundo buscando assuntos interessantes onde eu pudesse me realizar.
Fiz traduções, fiz comida, fiz contas. Andei por aí, me senti grande coisa, me senti pouca coisa. Fiz de tudo e também fiz nada. Passei muito tempo arrumando a casa, pensando na vida, cuidando da família e nessas idas e vindas passei a conviver com todo tipo de gente, o que me trouxe muita humildade mas também uma carga de cultura inútil da qual preciso me livrar.
Descobri que por mais que alguém seja especialista sempre tem um outro querendo desmoralizá-lo. E geralmente os boçais se dão muito bem na vida, pois acabam fazendo amizade com os espertos. Boçais e espertos formam quadrilhas imbatíveis. Estudiosos e honestos muitas vezes dão em pessoas reclamonas, que trabalham para mudar e manter o mundo mas que no fundo não se permitem deslizar plenamente pela felicidade como aqueles que não se preocupam com consumo consciente ou assuntos do gênero.
Já tive vergonha ao andar pelo shopping, considerando aquele lugar uma grande ratoeira de inocentes. Já comi o segundo sanduíche escondida, triste por saber que do outro lado do vidro tinha gente pedindo moeda no farol. Já fiquei orgulhosa por usar um sapato até acabar e envergonhada por carregar sacolas plásticas no meio da rua.
Mergulhei em estudos econômicos e escrevi material educativo infantil orientando os pequeninos a não caírem em golpes ou arapucas de espertalhões. Convivi com psicólogos e economistas que pensam o tempo todo em convencer as pessoas a não levarem vidas dispendiosas, mas vejo que eles não seguem a cartilha que escrevem, viajando desnecessariamente, deslizando seus carrões pra cá e pra lá e comprando livros que acabam com pobres árvores floridas, sendo que os mesmos empilham linhas e linhas de bobagens que daqui a um mês estarão superadas por alguma nova pesquisa de outro instituto qualquer.
Atualmente sinto vontade de ser feliz. Mesmo que para isso precise comer dois Big Macs da promoção. Mesmo que para isso precise ter uns sapatos da moda guardados para aquele momento especial. Às vezes sinto vontade de fumar cigarros. Paro e fico fumando mentalmente, até a vontade passar. Fico pensando em devorar um bifão na frente de um ambientalista. Adoro carne. Somos carnívoros, mas tem aqueles que insistem em nos convencer do contrário. São os mesmos que preferem ver paralíticos ao invés de sacrificar cobaias de laboratório.
Sinto vontade de andar pelas ruas sem reparar nos buracos ou nos sacos de lixo. Passar dias e dias sem varrer as folhas da calçada, já que mais cedo ou mais tarde a chuva ou o vento tratarão de carregá-las pra longe. Sinto vontade de esquecer toneladas de bobagens e neuras que adquiri estudando demais.
Quando era pequena costumava participar de guerras de soja, patrocinadas pela merenda escolar. A escola ficava toda dourada com as bolinhas torradas. Um desperdício, é bem verdade. Mas não deixava de ser um momento feliz entre a criançada, pois enquanto atirávamos a comida uns nos outros dividíamos o mais puro e profundo sentimento de confraternização.
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