E a funcionária pública que estava me atendendo no processo de admissão olhou no fundo dos meus olhos e me disse: "Não faz isso, não!"
Eu insisti, pois tinha certeza do que queria: Já tinha comprado um livro super legal sobre o assunto e me preparado meio que "profissionalmente" para dar uma de Policarpo Quaresma querendo ajudar a humanidade em nome do patriotismo.
Ela novamente me disse: "Pelo amor de Deus, não vá pra ouvidoria não! Lá é um lugar horrível, você vai ficar louca! Meu filho trabalha lá e está sempre de licença médica!" O telefone toca o dia todo, do outro lado gente uma mais estressada que a outra. Tem que trabalhar as oito horas e não tem esquema como nos postos. E outra, os médicos que tomam conta desse setor ouvem as reclamações e quase nunca tomam providências. É enxugar gelo! Se ainda adiantasse alguma coisa, tudo bem. Mas não! É só pra se estressar!"
Diante de testemunho tão enfático, não fui pra ouvidoria. Também não fiquei na Prefeitura, pois lá tem muita gente insatisfeita com o próprio trabalho. Muita gente ganhando um dinheirão sem fazer nada, enquanto outros que fazem muito ganham um dinheirinho. É de se entender que dê raiva. E dá mesmo. Eu não aguentei e fui embora, e tenho até medo de voltar.
Lembrei de escrever isso assistindo ao que aconteceu no Rio na escola atingida pelo atirador. No primeiro dia em que comecei a trabalhar na Prefeitura (posto de saúde), só me apresentei verbalmente, disse que estava com os documentos e que iria entregá-los assim que tivesse certeza que continuaria ali. E passei dois dias inteiros trabalhando, tendo acesso a fichas, a protocolos, exames e outros documentos muito pessoais sem sequer me identificar formalmente.
Talvez por isso as pessoas saibam que vão entrar nos espaços públicos e circular livremente, como fez esse atirador. Também estudei em escola pública e lá entrava qualquer pessoa, pois os portões ficavam abertos direto. Não que eu não ache certo os portões ficarem abertos. Eu acho. Mas aqui, com tanto traficante e maluco, não dá! Os hospitais são outros exemplos de descontrole total. Até mesmo o Einstein, onde eu zanzei pelos elevadores sem medo de ser feliz enquanto minha irmã visitava um doente. Passeei pelo elevador panorâmico, admirei o estádio do Morumbi, paquerei, fui à lanchonete e ninguém me interpelou.
E quanto à Prefeitura, quando eu pedi para mudar de área, não deixou. E hoje está novamente com déficit de funcionários, abrindo concurso de emergência para suprir a carência de vagas que ficam "vagas" porque trabalhar na área da saúde na Prefeitura é um saco! É um monte de gente que trabalha e reclama, uma grande quantidade de trabalho e, pra maioria das pessoas, um salário bem mixuruca.
A gente reclama aqui dos serviços públicos, mas é duro trabalhar pra uma Prefeitura que pouco vê os munícipes, mas que vê menos ainda os próprios funcionários. Tem os vagabundos, claro. Mas tem também os burros de carga que carregam a cidade nas costas. É caso pra se pensar.
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