Nem devia escrever esse texto. Mas faz tempo que estou precisando desabafar. Sei que vou escrever depois me arrepender, tirar do ar, porque a vida é assim mesmo. Hoje pensamos uma coisa, amanhã já não é mais isso e tudo muda. Mas tem coisas que difícilmente mudam, e é sobre isso que quero escrever.
Quero escrever sobre coisas que pensamos, mas não dizemos. Para não magoar. Por medo de rejeição. Por medo de passar por bobo. Mas embora já seja uma mulher adulta, às vezes me sinto como uma criança que não sabe conviver com esse mundo cheio de entrelinhas, interesses ocultos e articulações.
Não nasci para ser puxa-saco nem alpinista social. Acho estranho quando vejo pessoas fazerem amizades por interesse (algumas chegam a se casar!). Não teria estômago para conviver com alguém que acho chato só para ter algum conforto extra - coisa que podemos conquistar sozinhos.
Ontem, na reunião do Conselho, muitas pessoas ocupavam cargos importantíssimos. Outras nem tanto. Mas tinha gente que se achava mais importante que o Secretário, que a Vice-Prefeita. Eles, diga-se de passagem, eram de humildade ímpar. Bem como os organizadores do evento que me convidaram a participar da missa que o Padre Marcelo rezou às 17:00 hs, reservada aos funcionários.
Há pessoas que fazem questão de ser intragáveis para afastar possíveis concorrências. Também como forma de impor respeito se transformam em sabe-tudo, chegando a responder de forma grosseira a colocações banais. Vivi isso quando trabalhei na Prefeitura. Um estagiário era insuportável, e transformava a vida de todos num inferno. Ontem no conselho conversei e soube de articulações políticas, que transformam regiões carentes em nichos eleitorais importantes. Foi gostoso conversar com aquelas pessoas tão diferentes de mim, que também se preocupam com a cidade e sabem que ninguém faz nada sozinho. Muitos estavam lá por visibilidade. Esse anseio é tão visível que salta aos olhos. Não só aos meus como aos das autoridades já "velhas de guerra" em conhecer quem é quem.
Cheguei cedo e pude conversar com várias pessoas que me situaram no mundo dos influentes. Tenho dificuldade em guardar nomes e cargos, o que já é um ponto negativo. E também positivo, pois às vezes converso com autoridade importante sem saber com quem estou falando. O que nos torna bem mais iguais.
Durante a reunião eu ia tirar uma foto para mostrar a vocês. Mas como todos os presentes à mesa estavam embuídos do espírito "somos grandes coisas", não quis ser deselegante. Também fiz cara de grande coisa - embora não me caia bem. Fiquei pensando que minha roupa talvez pudesse ser mais social. E que meu cabelo talvez estivesse espalhado. Também fiquei pensando em nossos problemas que são muitos, nas pessoas que vão às reuniões e se queixam. Em como eu conheço a zona oeste ainda tão pouco. Ouvi falar sobre a enormidade das metas, que eu já conhecia, mas que ali, diante dos Secretários e da Prefeita, pareciam ser ainda maiores. Pensei nas centenas de ideias que tenho para melhorar a cidade. E nas que ainda posso ter. Pensei na responsabilidade de estar ali. Quis chegar dizer à Vice-Prefeita que quero montar projetos educativos quando ela me sorriu.
Mas, voltando às vaidades, sinto isso também no grupo de estudos que participo. As pessoas conseguem ser de formalidade incrível até mesmo numa sala de estudos virtual. Enviam links em língua estrangeira quase sempre. Falam sobre postulados, autores de sobrenomes difíceis. Mas têm muita dificuldade em falar sobre o que pensam de verdade. Para mim a melhor forma de estudar como tomamos decisões econômicas seria contar bem direitinho como raciocinamos, de que forma cada um toma suas próprias decisões. Mas falar sobre ganância, mesquinharia, perdularismo é difícil até mesmo para quem estuda sobre isso. Eu falaria numa boa, mas parece que as pessoas se sentem devassadas, invadidas ou "menores" caso falem sobre si próprios. É uma pena, pois creio que se fôssemos cobaias de nós mesmos nosso trabalho ficaria bem mais interessante.
Também participava de um grupo de artes, pois tinha a sensação que essa área seria meu lazer, meu refúgio do mundo ganancioso e competitivo. Para minha decepção muitos malucos se enveredam por esse caminho e teimam em infernizar a vida daqueles que querem apenas criar para serem felizes, ou se divertir.
A vida é complicada. Eu também não sou flor que se cheire. Tenho meus repentes de raiva, de inconsequencia. Fico triste ao ver que a democracia nesse país só vai até a página dois, até quando convivemos sem discordar demais dos outros, senão corremos o risco de sermos boicotados, como acontece sempre comigo. O bom e o ruim de tudo isso é que ninguém faz nada sozinho. Por mais que eu queira me isolar, serei sempre obrigada a conviver com uns e com outros, o que sempre me trará um pouco mais de sabedoria e exigirá dose extra de paciência. E aqueles que acham que são os pais de toda invenção e de todo progresso, também têm que se curvar aos súditos vez ou outra, principalmente quando precisarem de seus votos, ato esse secreto e pessoal, com a graça de Deus.
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