terça-feira, 7 de setembro de 2010

Cuidado! Aquele som vem do coração!

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Sim, é impossível conhecer São Paulo. Frequente um restaurante por dia, viva todos os dias da vida e ainda assim não terá tempo de conhecer todos. Não caminharemos por todas as ruas, não entraremos em todos os museus, nem escolas. Porque assim que o dia amanhece, algo novo aparece. São Paulo acorda de um jeito e adormece de outro. Durante a noite não descansa e assim vamos nos apresentando diariamente a essa cidade que chamamos de nossa.

São Paulo não se deixa pertencer. Uma, pela sua natureza. Outra, por sua mutação. Uma praça nova aqui, um prédio novo ali... Um comércio que abriu e fechou tão rápido, que nem deu pra saber bem ao certo o que era! A casa do vizinho, que funciona de depósito sabe-se lá do que. O papo do coreano enquanto fazemos compras no Bom Retiro... O que será que ele diz? Mais fácil se falasse árabe! Com tanta gente tomando conta do que já era estrangeiro, onde antes se falava grego, agora virou chinês.

Assim como acontece em São Paulo, também dentro de nosso bairro. E foi fácil constatar isso nessa grande polêmica envolvendo o Palmeiras. Foram mexer justo com nosso intocáve! Mas como? Não conhecem o pedaço? Muitas perguntas nos fizemos, tentando entender como moradores podem ver nosso principal marco histórico como apenas mais uma empresa. E para argumentarmos sobre o que aos nossos olhos era tão óbvio, buscamos nas raízes do bairro os nossos porquês. E os textos foram montando um quadro novo até aos próprios olhos, já que não costumamos transcrever as razões que nos levam a amar. Mesmo assim, fundamentados na lógica e no urbanismo, conseguimos dizer, em longas centenas de linhas, aquilo que poderia ser resumido apenas em poucas palavras: Raízes de nossas vidas.

A Pompeia viu ameaçado seu direito de modernizar instalações que abrigam justamente àquilo que sempre mais nos foi caro: O futebol, que fez com que a Pompeia ficasse conhecida no mundo todo através da esquadra alviverde (campeã do século XX) e o rock, que faz barulho sim, mas do qual somos o berço nacional. Isso nos deu o prazer de sermos conhecidos no Brasil todo pela vocação em abrigar e produzir altos talentos de renome nacional: Tutti Frutti, Mutantes, Luiz Carlini, Rita Lee.

Para quem conhece bem o bairro e se orgulha das tradições, o Palmeiras não é apenas uma edificação. Um grito de gol vindo do Palestra não é apenas um ruído. O vibrar da torcida é o vibrar da vida do bairro. Os acordes do rock hoje amplificam em decibéis nossos acordes antigos, que trouxeram lágrimas aos olhos de imigrantes e vizinhos quando a música Ovelha Negra começou a tocar diariamente no rádio e na TV, em rede nacional. E de nossas ruas também vieram as mãos do grande talento Jether Garotti, arranjador da música "Per Amore", que emocionou milhões de brasileiros na abertura da novela das oito.

Sim, o Brasil não conhece o Brasil. São Paulo se reapresenta aos seus habitantes em suas múltiplas faces. E a Pompéia, que só consigo não achar estranha quando escrita com acento, ganha nova vida e vestes com a merecida construção de um estádio moderno, digno da grandeza desse lugar.

No vídeo, mais um pedacinho da história do bairro, contada pelo ídolo Luiz Carlini, talentoso e generoso, que, por amor, nunca deixou esse lugar:

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