Na audiência pública sobre o aumento da tarifa várias questões foram levantadas por todos e vou resumir rapidinho para não cansar:
• Vereadores, estudantes e representantes da sociedade civil eram contra o aumento, considerando o preço abusivo - exceto o Secretário dos Transportes Marcelo Branco, que considerava o cálculo justo e correto.
• O preço do litro de diesel descrito na planilha de custos era da ordem de R$ 1,85 quando num rápido telefonema um dos vereadores descobriu que o valor correto é 1,70, o que gerou um desconforto no recinto.
• O Secretário esclareceu que há vários tipos de diesel e que em alguns casos é combinado com biocombustível, o que transforma o valor em produto de novo cálculo.
• Os estudantes estavam muito alterados, demonstrando que muita gente não conhece a avenida Paulista por falta de condições financeiras para tomar o transporte, e que muita gente anda quilômetros a pé ou de bicicleta para cruzar a cidade.
• Ninguém citou o problema dos degraus nos ônibus, que facilitam as quedas além das janelas onde o friso de borracha pega bem na altura dos olhos, demonstrando que as empresas estão bem pouco preocupadas com nossa qualidade de vida.
• Alguém citou que a superlotação dos metrôs é da ordem de 11 pessoas por metro quadrado. (Será verdade isso?)
• Os estudantes se alteraram e desrespeitaram o local, sendo agressivos em vários momentos, principiando um cárcere privado ao secretário, que saiu do plenário de fininho, mas teve que se esquivar dos estudantes para sair do estacionamento.
• Alguns disseram que o cálculo da planilha de custos é feito pelo irmão de Gilberto Kassab. O Secretário revelou que quem faz esse cálculo é a USP. Mas não se abriu à auditoria, o que me pareceu estranho.
• Fiquei triste ao ver a qualidade do "português" de vários presentes, tanto estudantes da USP como vereadores. Enfim, quando um estudante fala tão errado, ainda mais quando é da USP, fica difícil respeitar o que ele está dizendo, mas acredito que os vereadores não tenham percebido isso...
• O Netinho de Paula interrompeu a audiência quando já estava cheio, convidando os inscritos a se calarem e ouvirem o secretário, pois todo mundo estava dizendo "a mesma coisa". Segundo ele, "vamos parar de falar tanto e tentar uma solução para resolver a questão dessa DROGA DE TARIFA!". Um vereador falou aos estudantes que era pra terem postura porque ali não era sala de aula. E eu aproveito para dizer ao vereador Netinho que ali não é quadra de escola de samba! Com um vereador : -( que quase foi senador )-: usando esses termos, fica difícil respeitar o ambiente, mesmo, né? Ainda mais que se espera que uma "audiência pública" seja um local onde os presentes se disponham a OUVIR o que o povo tem a dizer.
• Os estudantes precisam aprender que estamos num país onde os representantes são eleitos por voto direto, e que eles são a voz de muita gente que votou neles. Não podem ser tratados como imbecis.
• Os vereadores precisam entender que os estudantes não são idiotas, quando começam a criticar o Prefeito para promoverem seus partidos e os aliados. Nós precisamos de representantes que entendam e queiram resolver os problemas da cidade, e não de gente que fica falando para destruir a base da oposição.
• Os estudantes também precisam entender que estão ali por direito, mas que estamos num país onde os direitos nem sempre são respeitados, então a força física, a gritaria e o desrespeito devem ser evitados. Caso contrário corremos o risco de andar para trás na história.
• Quando um vereador apresenta um projeto, devemos agradecê-lo por isso. Por mais que ele queira se promover para conseguir x ou y objetivos, sem ele nada conseguiríamos. Para saber se ele faz isso com segundas intenções, basta acompanhar sua carreira política. Dá trabalho fazer isso, mas é a maneira mais correta para não cometermos nenhuma injustiça.
• Os vereadores que estavam ali estavam cumprindo a obrigação, mas caso não quisessem estar, nada os obrigaria. Caso os estudantes parem a cidade, os trabalhadores façam greve ou qualquer arruaça que nos dê em mente, os vereadores vão continuar ganhando seus salários. Então precisamos olhá-los com respeito, pois eles são produtos do desenvolvimento de nossa democracia. Se são corruptos, podemos apurar, mas nem por isso devemos desrespeitar a organização da sociedade. Devemos tentar mudá-la, mas não destruí-la, pois mudanças são feitas aos poucos, e não com gritos, tambor ou palavrões.
• Quando um vereador fala e o estudante grita "cala a boca!", está infringindo a democracia. Não podemos questionar nossos direitos e fazer odes à cidadania com atitude antagônica à ela.
• Um representante estudantil falou que não quer saber de ver contas. Mas está errado! Nós queremos conhecer o cálculo, queremos acompanhar os custos, colaborar e ter ideias para que eles diminuam. Queremos questionar e participar. Também queremos que o Secretário se abra ao diálogo e que o transporte seja digno. Essa de dizer que não queremos saber, é colocação imatura. Queremos saber tudo! Temos esse direito.
• Dizer que as empresas de transporte não devem ter lucro, é afirmação lunática. Nenhum empresário monta estrutura sem a finalidade do lucro. Senão seu trabalho não faria sentido.
• Se os lucros são astronômicos e a tarifa aviltante, se o transporte não deveria ter sido privatizado, se os estudantes, desempregados, idosos e deficientes não devem pagar tarifa, é outro problema. Cada problema deve ser tratado com maturidade. São questões distintas! E não podem ser agrupadas e desepejadas de uma vez sem que soluções sejam propostas.
• Os estudantes deveriam se unir para não repetirem sempre as mesmas coisas. Deveriam apresentar propostas para a cidade, ao invés de baterem na tecla da corrupção o tempo todo. A corrupção existe, está aí e o que precisamos é encontrar meios para dificultá-la.
• Os corruptos de hoje são os estudantes absurdados de ontem. A fome de riqueza e de poder corrompe e ninguém está livre disso. Por isso é preciso participar dos movimentos, mas mesmo sendo um dos estudantes, ter senso crítico com o colega. Refletir, reivindicar mas nunca aceitar fazer parte de uma boiada de companheiros que no futuro acabarão correndo o risco de falar amém a pastores, líderes sindicais e chefes de governo.