Quem veio de uma escola pública como eu e enfrentou mil barbaridades pedagógicas, como professores faltando o ano todo, greves, professores sem capacidade intelectual, física ou moral entre outras barbaridades e por isso mesmo precisou mudar de escola três vezes, fica de queixo caído quando escuta falar sobre avaliações dos alunos.
"Se você continuar vagabundo vou mandar sua mãe te por numa escola pública" - dizem os educadores (ó-ti-mos...) de escolas particulares. Assim também dizem os pais, os avós e muita gente que não tem tempo sequer para dar um beijo nos filhos mas acha que sabe tudo sobre educação.
Num país onde ainda não conseguimos encestar nossos descartes no balde de lixo, vivemos discutindo sobre métodos avançados de aprendizagem e colégios de padrão internacional. Suamos para pagar escolas particulares para nossos filhos mas não temos preocupação em saber se estamos dando o exemplo dentro de casa. Isso me leva a crer que a preocupação dos pais está muito mais em mostrar aos amigos e familiares que têm capacidade de pagar uma boa mensalidade para seus pimpolhos do que propriamente pensar que serão seres humanos de dignidade ímpar.
Quem como eu não tem filhos e vira e mexe dá uma fuçada nos cadernos dos afilhados, sabe que por mais que a escola seja cara ainda estamos longe de ter métodos de avaliação dignos de nossas necessidades. Questões dúbias e mal formuladas, questões de duplas respostas, perguntas que mais parecem um labirinto para a lógica humana e temas de redação assincrônicos com a idade dos alunos jorram por aí. E os pobres aluninhos são os que saem cabisbaixos quando a nota do Enem vai mal. Eu sei, a vagabundagem é um ímã mas podemos ver numa olhada rápida na internet que nossos jovens estão muito longe de ser burros, pois dominam a tecnologia e os processos como ninguém.
Criam vídeos, navegam, se comunicam e se entendem em novas linguagens de forma surpreendente, mostrando que o que merece mesmo uma nota baixa é nossa maneira de tentar ensinar-lhes o beabá. Nossos autores de sempre, nossas fórmulas quadradas e o pouco comprometimento que a escola tem com a vida prática demonstram muito mais que a escola está longe de ser aquilo que o jovem precisa.
"Se não estudar vai puxar carroça!" Escolha "ou a caneta ou a picareta"... Frases assim, que instigam o preconceito social já começam a vida educativa muito mal. Enquanto as funções que exigem menos escolaridade forem mal vistas pela sociedade (embora sejam indispensáveis para nossa saúde e subsistência), nunca teremos o futuro cultural que o Brasil quer e precisa.
"O aeroporto parece a rodoviária!" "Tá cheio de doméstica viajando todo mês pra Bahia!" "Que absurdo!" Depois desse tipo de papo a gente vai lá e paga três mil pro filho ir aprender a ser gente na melhor escola da cidade...
Se, por algum motivo o aprendizado precisasse se restringir à poucas matérias, certamente o respeito seria o primeiro assunto da lista. Enquanto ele for ficando por último, zero para o Enem.