domingo, 5 de junho de 2011

Não dá pra entender

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Vou tentar ser sucinta:

Faz pouco mais de um ano que passei a conhecer os movimentos organizados da região, movida pela vontade de limpar o bairro.

Nesses meses conheci os Consegs e alguns Núcleos de Ações Locais, como os do Sumaré, da Lapa de Baixo, da Vila Romana e da Lapa. Conheci também alguns movimentos de Pinheiros e dos Jardins, além de conselheiros do CADES e da Saúde.

O que pude notar em comum entre todos esses grupos foi o desejo de manter o bairro com qualidade de vida. Todos lutando por mais segurança, por menos barulho, por ordem no trânsito e por tudo o que é ligado ao bom convívio.

Como todo mundo trabalha sem remuneração, é natural que a vontade de ser reconhecido pelo esforço feito pelo bem comum seja inerente a todos esses líderes. E se for ver, é o mínimo que a comunidade pode dar em retorno à essas pessoas.

Mas, para minha surpresa, pude ver que o principal veículo de comunicação do bairro não vê os movimentos com bons olhos. Frequentemente boicota a divulgação de informações, dos horários das reuniões, critica o trabalho dos líderes e procura endeusar os movimentos comunitários do século passado como as únicas coisas que foram úteis ao bairro.

Moro bem ao lado de uma quadra ótima que foi inutilizada desde que um desses movimentos antigos assumiu os cuidados com ela. Os ferros dos pilares estão aparentes. O mato e o lixo se espalham por meio quarteirão. Isso me leva a refletir:
Será que esses movimentos antigos eram tão melhores que os atuais?

As organizações de hoje tentam combater as quadrilhas de bandidos, o trânsito caótico e as centenas de problemas que foram criados aqui no pedaço desde que a verticalização tomou conta do lugar. Hoje nossos problemas são muito maiores, mas mesmo assim o trabalho dessas pessoas não é reconhecido.

Nesse final de semana li no Jornal da Gente que os Consegs podem servir de palcos eleitorais. Não presenciei nada disso, embora ache que os Consegs e os Núcleos de Ações Locais sejam os melhores lugares para que líderes políticos surjam espontaneamente. Isso não seria um problema mas sim uma solução.

O princípio do voto distrital é justamente o surgimento de lideranças locais a partir de organizações comunitárias. Mas o Jornal não vê essa possibilidade como uma coisa boa.

Esse mesmo Jornal ressalta o fato dos Consegs terem pouca participação da comunidade, embora nossos Consegs sejam bem movimentados se comparados a outros do resto da cidade. Mas ao invés do Jornal incentivar a participação comunitária, critica as atividades, afastando potenciais participantes. Insinua que as pessoas estejam ali com segundas intenções.

Sugeriria a esse mesmo Jornal me perguntar quanto dinheiro já gastei com passagens, estacionamento, gasolina, xerox, internet, sola de sapato e horas e horas de dedicação a reuniões para tentar melhorar o bairro. Se eu gastei isso, as Presidentes dos Consegs gastaram cem vezes mais. Isso significa que não trabalhamos de graça mas pagamos para trabalhar. Enquanto isso, o Jornal fatura.

Se tentar remover uma árvore para que ela não caia na cabeça de alguém não é assunto de segurança, sugiro que o jornalista arrisque se abrigar sob alguma, durante um temporal. Se tentar organizar o cruzamento que está tendo colisões não é assunto de segurança, sugiro que o mesmo tente atravessá-lo distraidamente. Se tentar dar um jeito na casa abandonada não é assunto de segurança, sugiro que o Jornal se instale ao lado de alguma, de preferência invadida por mendigos que fazem fogueira e gritam a noite toda.

Eu, como moradora, quero mais é que esses líderes fiquem bem conhecidos, aplaudidos e envaidecidos. No dia em que isso acontecer, o bairro estará muito melhor, graças a eles e a todos os que se engajarem nos movimentos.

Quanto ao Jornal, estou triste por ver que não estamos tão bem representados quanto imaginava. Eu adorava ler esse Jornal. Agora, já fico atenta.

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