segunda-feira, 19 de julho de 2010

O lixo nas ruas tem a cara do brasileiro

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Sim. Nossos lixos pelo chão são sinalizadores de nossas atitudes diante da vida e do mundo. Nossos trecos espalhados por aí são rastros de nossa pressa. Rastros da vontade que temos de nos livrarmos rapidamente daquilo que incomoda, do que não cabe mais em nossas vidas. Fazemos isso até com os "amores"! Como sair por aí pedindo que tenham consideração pelas ruas ou pelo vizinho, se muitos não sabem nem onde estão os filhos naquela hora?

Mas o lixo não sinaliza apenas coisas ruins. Indica também nosso excesso de tolerância, benevolência. Nossas vistas grossas para os erros alheios. Objetos que escancaram nossos hábitos. Acumulados de coisas soltas que ninguém faz questão de julgar. O lixo pelas ruas é a maior bandeira de nossa extrema liberdade.

Nosso país nos oprime em moldes arcaicos de comportamento e pensamento. E ao mesmo tempo nos traz para porta de casa o mundo todo numa tacada só. Observar o lixo nos permite conhecer melhor o vizinho. Seus hábitos de consumo, como anda seu bolso, sua alegria.

Eu tenho medo do dia em que alguém vier me multar quando deixar um papel de bala cair no chão, sem querer. Nesse dia terei certeza que nossa liberdade flamula distante. Quero eu poder escolher onde despejar meu papel. Sei que escolherei sempre o recipiente apropriado. Mas sei também que se caso algum dia me der a louca e eu agir inconseqüente, a cidade não irá me julgar por um ato isolado, e isso é bom.

Sair espalhando placas educativas é interessante, pois nelas podemos expressar nosso incômodo, nossos anseios e dissabores. Mas também sei que placas mal educadas entristecem a cidade, criam estigmas. Sinalizar bons hábitos com placas de duro conteúdo não é simpático, nem legal, em todo sentido da palavra. Não serei eu a sinalizar o bom hábito do vizinho através de uma placa. Poderei pedir. Nunca mandar.

Devemos ter cuidado ao lançarmos mão de truculências, pois a vida leva e traz. Respeitemos o cursar do rio, aprendamos com ele. E enquanto o rio não nos leva ao destino sem que o remo nos seja pesado, aceitemos seu curso, admiremos a paisagem e aprendamos com ela. Sem isso não haverá felicidade.

Um amigo me fez refletir com seus poemas, aqui está:
http://www.germinaliteratura.com.br/2010/artes_paulo_dauria_jun10.htm

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