Devido ao imenso desconforto que sinto ao transitar por nossas ruas cheias de sujeira, fezes, entulho e sacos de lixo espalhados, passei a refletir sobre soluções.
Minha primeira ideia foi desenvolver um trabalho ligado ao amor pela cidade. Projetos de cunho afetivo, apresentando a cidade aos próprios moradores como um território turístico a ser conservado e explorado.
Depois pensei em investir em educação moral e cívica, mas o tempo dela já passou. Hoje, muitos rejeitam essa disciplina alegando ser ela um dos apêndices da ditadura.
Em seguida investiguei a educação ambiental, mas novamente veio o desconforto. Os mais famosos ambientalistas assumem postura intransigente misturando consumo de carne com falta de consciência. Radicais de carteirinha me desestimularam a investir exclusivamente nessa área.
Na psicologia também esbarrei em amarras filosóficas, e vi minha liberdade de expressão tolhida.
Nas políticas públicas, nova barreira técnica: Burocracia, corrupção e egos alternam-se em vigília perene.
Li muito sobre profissões e a única área onde o profissional pode inventar e aplicar técnicas e conhecimentos livres e diversificados, passeando por todas as áreas sem ser tolhido por conselhos regionais ou entraves filosóficos é a educação artística.
Já há alguns anos venho trabalhando com isso, escrevendo livros infantis. Como analista de sistemas o que gostei mesmo de fazer foram os dicionários eletrônicos e um game. Gosto muito de lógica, mas se o objetivo não for humano, não tem graça nenhuma!
Desde o ano passado venho pensando em me profissionalizar em educação artística, pois vi nessa área a possibilidade de desenvolver projetos de ensino de organização, higiene e desenvolvimento dos sentidos.
Dói entrar no túnel do metrô "Sé" e sentir o cheiro de cocô humano enquanto admiro o espelho d'água. Muitos nem sentem mais o cheiro, pois seus sentidos estão anestesiados!
Dói caminhar pelas calçadas e sentir o cheiro de urina. Olhar a bagunça das lixeiras dos prédios de luxo, pois a maioria dos funcionários têm muito pouco senso de ordem e de estética.
Intrigo-me ao ver que o vizinho deixa seu cachorro latir frenéticamente, pois seus ouvidos já se desligaram do som e a sensibilidade para saber que isso incomoda não existe.
Os problemas da cidade vão além da falta de respeito. Muitos deles acontecem pois andamos muito distraídos e não conseguimos nos colocar no lugar dos outros.
As vielas sujas servem para esconder o lixo. E eu até entendo que alguém consiga ver a viela como um local apropriado, que não incomoda "ninguém"! Mas lixo no meio-fio é anti-estético. E isso é falta de um "olhar".
Aqui na rua as flores cor-de-rosa estão cobrindo a calçada, mas tem gente que nem reparou! Tem vizinho que corre pra varrer as lindas flores, pois só pensa nelas como sujeira. É porque não desenvolveu o "olhar".
A educação artística ajuda a desenvolver os sentidos, a observação, o senso de organização, as emoções.
É uma área incrível, onde não há limites para falar ou criar soluções para nossos problemas mais urgentes. Ela nos permite entrar em contato com o que nos incomoda e com aquilo que nos faz feliz.
Eu não gosto de grafites. E acho que resumir a arte na cidade a isso, é muito limitante. Não creio que a virada cultural seja produtiva à nossa cidadania. A virada cultural produz um lixo tremendo e um barulho descomunal.
A cidade nos proporciona experiências sensoriais contínuas: A poluição embriaga o olfato. As calçadas tortas gritam ao tato. O lixo desconstrói a beleza. Perturba a ordem. Os carros estacionados nas esquinas prejudicam a visão. Os bares barulhentos, a audição. Um dos problemas da cidade grande é ligar todo mundo no piloto automático. A gente não pode ver uma fila que já entra. Às vezes nem sabe onde vai dar. É automático!
A solução mais rápida para nossos problemas seriam as multas. Se a Prefeitura fizesse a lei ser cumprida a cidade ficaria organizada bem rapidinho... Mas como isso não é possível nem muito simpático, as soluções precisam seguir outros caminhos. E a educação artística pode ajudar a construir e manter ruas interessantes.
Quem sabe assim nossos caminhos não vão ganhando ares mais suaves e nossa pressa e vocação para produzir bagunça e sujeira ficando para trás?
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