Quarta-feita fomos visitar a reforma do Teatro Municipal, a construção da Praça das Artes e a restauração do Solar da Marquesa, que vai virar o Museu da Imagem.
Nessa visita pudemos constatar as enormes dificuldades encontradas em reformas de monumentos e patrimônios históricos, pois uma cidade como São Paulo corrói pintura, cimento e madeira com grande velocidade, graças à poluição do ar, além da umidade e da existência de pragas urbanas como insetos e cupins.
As obras estão indo bem, os profissionais são dedicados e competentes, mas o que me chamou atenção na visita foi o enorme desgaste físico dos trabalhadores que se dedicam à construção civil.
Confesso que cheguei a me sentir constrangida fazendo parte de uma comitiva engravatada, que entrou numa obra a pleno vapor sem que a maioria de seus componentes sequer cumprimentasse os trabalhadores ali presentes. Parecíamos fiscais perfumados dispostos a criticar vassalos suados, que chegavam a tremer nas bases conforme o tempo passava.
Pensei que o mundo é injusto. Que talvez não devessemos nos preocupar tanto com a quantidade de serviços disponíveis, mas sim com a qualidade de vida dos que realmente se dedicam para que tudo aquilo aconteça. Tive certeza de que os conselheiros deveriam ser eles, pois conhecem o peso dos caibros, o custo das obras e o retorno das metas. Tenho certeza que eles optariam pelo que é mais prático, pelo que dura mais, e consequentemente é ecologicamente correto.
O capacete que eles usam é pesado e faz a cabeça suar. Por isso cheguei a ter vergonha de muitas coisas que disse, e até mesmo da vida que escolhi. Lamentei não ter feito nada mais útil ao mundo, já que fui privilegiada em várias áreas da vida quando comparada aos que estavam ali, debaixo do sol, trabalhando para que o palco dos cantores e bailarinos fosse resistente. Questionei prioridades.
Um dia ouvi um médico da USP falar que trabalhava com descobertas científicas porque precisava devolver à sociedade o que ela havia lhe dado, através da oportunidade de estudar numa escola pública. Naquela visita entendi direitinho o que o médico quis dizer.
Quando fui trabalhar na Prefeitura, me senti inadequada ao cargo por achar que minha contribuição para a sociedade poderia ser bem maior do que apenas guardar pastas e envelopes, receber, registrar e triar informações. Queria fazer mais por todos, e para isso quis ser conselheira, para poder conhecer pessoas influentes que pudessem passar adiante todo trabalho que venho documentando há anos.
Esse trabalho não está aqui no site. São projetos em áreas referentes à educação e ao sistema de trabalho, e muitos foram baseados em anos de estudos na faculdade, lendo, relendo, trocando ideias com mestres e doutores, analisando pesquisas e esquentando muito a cabeça quando os pensamentos vinham aos montes e ficava difícil organizá-los.
Nesses anos entendi que os livros, as leis e várias decisões sociais são buscadas nos bancos acadêmicos. Nas teses de pós-graduação, mestrado e doutorado. Por isso mesmo venho tentando enquadrar todos os assuntos discutidos (ou a maior parte deles) em uma área que abranja um grande número de soluções. Por enquanto as áreas encontradas foram a educação e a economia. São abrangentes e importantes. As artes pincelam uma dose de leveza quando o assunto é educação, por isso a educação pelas artes ainda é uma de minhas áreas favoritas.
Mas meu interesse mesmo é jogar tudo isso para as políticas públicas. Por isso não quero fazer parte do quadro de conselheiros como alguém que vai incomodar, infernizar, brigar. Quero somar forças e mostrar que nossa visão como comunidade é uma visão privilegiada. Que independente da corrupção haver ou não, precisamos de soluções. Até mesmo para agregar valor à gestão do vereador, deputado, prefeito, governador ou secretário.
Enquanto fui funcionária pública percebi o quanto é importante ter bons contatos. E os bons contatos são aqueles que podem nos fazer subir a cargos onde as soluções estejam mais perto do alcance. Ou que seja possível falar diretamente o que precisamos ou o que poderia ser feito nos ouvidos das pessoas certas.
Nunca pretendi nem pretendo ser ameaça à ninguém. Nem à sociedade, nem aos políticos, nem mesmo aos corruptos. A corrupção está arraigada e não sou eu que vou extingui-la de uma vez. A missão é sempre driblar as dificuldades e tentar produzir algo útil ao trabalhador da obra, aquele que efetivamente está executando as metas.
O estudo das metas já foi feito e as sugestões que puderam ser dadas entreguei à conselheira titular na última semana. A partir de agora as energias vão para o grupo de estudos da faculdade, para produzirmos material educativo e análises que possam embasar as próximas leis que vão ajudar a ensinar a comitiva de conselheiros a cumprimentar os trabalhadores das obras quando forem visitá-los.